sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Após percorrer a muralha da China juntos, cada qual saído de uma ponta. Último diálogo:

(silêncio)

- É para o nosso bem. É para o meu bem.

- Essa é a sua decisão?

- Sim. Eu não queria que fosse assim... Você sabe... Eu te amo.

(silêncio, ouve-se apenas a respiração forte dos narizes com renite e cada qual ouve o próprio pulsar do próprio coração)

- Você é muito importante para mim.

- Você também, muito.

- Tchau.

(silêncio, olhos cheios)

- Tchau.

(abraço, e se vão)


Carlos Alberto Moreno

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Happy Birthday

Hoje. Dia em que o Sapo completa mais um ano de vida. A querida Bela toda esperançosa preparou as melhores palavras que tinha em sua caixinha e as deu de presente. Não conseguiu proporcionar uma experiência sensível, nem o mínimo de poesia necessária circundou esse web encontro que há tempos não se repetia. Pelo contrário, suas palavras foram consumidas assim como qualquer outra coisa que ele pudesse receber nesse dia. Parou por uns (longos) instantes em frente à tela, esperava uma resposta. Não veio. E ela que precisava voltar ao seu (não metafórico) sono saiu, tendo que se sentir satisfeita com um simples obrigado. Ela queria mais o quê?

=/

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Carta ao sapo...

Poderia ela escrever páginas e páginas de muitas palavras (acredite, ela teria milhares), porém desistiu, não por achar que as palavras não dariam conta, mas por não saber qual o seu objetivo com aquilo e se realmente o soubesse seria somente mais uma de suas milhares de idealizações. Acreditara que somente palavras bem escritas poderiam mudar a situação em que se encontrara. Mas após um longo período de reflexão viu que era somente mais uma possibilidade, uma tentativa que poderia ser frustrada como todas as outras.

Desistiu. Não de escrever, mas desistiu de querer algo que nunca existiu e nunca poderia existir naquelas circunstâncias.

A carta antiga? Não a rasgou, nem nada, virou a página do caderno e deu inicio a uma nova carta. Agora só queria deixar suas palavras marcadas.
Ela nutria um desejo grande de que ele não rasgasse e nem amassasse essa carta. Pois acreditara que “palavras nunca são descartáveis e que o desenho da letra é sempre uma extensão da pele”.

Escreveu... Escreveu... Escreveu...

Parou de escrever, pois teve medo de suas palavras, havia mergulhado em si mesma já que não saberia escrever sobre ele e o mar aparentemente conhecido se tornou cada vez maior e assustador. Sim, ela era covarde. Mas isso não a entristeceu de início, pois afinal quem não tem medo do desconhecido?

Continua...




Alice Nascimento?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

do verbo colorir.

como se eu fosse uma folha de papel
e como se você fosse giz de cera

você me risca
me pinta
me borra

fico colorido
todo
cheio de cores
atravessando o corpo
da pele
da carne
do osso

os azúis, os vermelhos e os verdes
os amarelos, os marrons e os laranjas

entram pelos olhos
pelos poros
pela boca

e eu deixo de parecer um filme antigo para dar lugar às explosões do cinema moderno

Carlos Alberto Moreno

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Era uma vez...

Cinderela amava o Príncipe, que só queria ser amigo dela e nada mais. E o príncipe, cisudo, dizia que Cinderela era como alguém da sua família, e a chamava de "meu amor", depois brigava com ela por se iludir. Polaridades, sentimentalidades, humanidades.

Peter Pan prometeu que dessa vez vira homem. Que vai crescer, mudar de jeito. Coisa que Wendy, a séria Wendy, não bota a menor fé. Para ela Peter Pan não tem jeito, deve primeiro aprender a lavar as próprias orelhas para depois pensar em casamento. Ele se defende dizendo que ela que é fria e não se abre para o amor... Tentativas e mais tentativas frustradas de diálogo.

Chapeuzinho Vermelho seguiu os conselhos da Cinderela e foi correndo sair com o Lobo Mau. Apesar da sua bulimia, ela deixou a timidez de lado e caiu nos braços do seu amado. Que tem certas manias sádicas para com a moça, mas que jura de pé junto que a ama e que só quer fazê-la feliz. Quem diria que até no amor poderíamos falar em singularidades?

Enquanto isso a Bela Adormecida pegava no sono e não percebeu que "o cara" que ela se apaixonou não é o Príncipe, mas sim o Sapo. Que também não sabe que é um Sapo, pois ficava isolado com toda a sua filosofia, todas aquelas palavras perfumadas.(tempo) -Bela! -Bela! Dormiu? Dormiu...(tempo) Namoro à distância. Relação virtual. A fotografia que antecede a pele. Mais uma ilusão que se apodera da alma.

Feliz? Sempre?

Não se sabe.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

tempestades, lágrimas, canções, palavras, sentidos, fábulas...

Assim falou Clarice.

“...olhe ao redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado a vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo e grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.”

(trecho do livro Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, Clarice Lispector.)

"... foi o meu amor, que me disse assim, que a flor do campo é o alecrim..."



“Feliz pra Sempre!” - CEMOV

Embebidos com as palavras de Clarice fomos para o espaço cênico (?).

Corpo sensível.

Dois “atores”, um caderno, uma caneta, um rabo, um óculos, uma rosa, um sapo, uma bandana, duas cadeiras, quatro casais e só. Só? O suficiente para expressar um depoimento pessoal.

Como não refletir após?

Como não ter vontade de deixar cair algumas lágrimas, seja da “emoção” de ter compartilhado, seja da tristeza por se achar tão patético.

Sou ser humano, mas o que de fato é ser humano.

Minha arte é minha vida. Seria mais fácil se eu fosse separada.

Minha vida é uma criação, como os casais que eu (re)crio.

Isso é tão confuso que as palavras não darão conta. Como a Clarice conseguiu?

Já chega.

Às vezes me ponho a pensar: será que o mundo se transformou mesmo num coletivo de rinocerontes e eu só percebi agora? Ou somos nós que queremos ser demasiadamente humanos?

Mas o que é ser humano?

Estou/sou viva e quero falar!!

Alice Nascimento

07/09/2009

As conturbadas relações (humanas).




Abertura de processo: CEU Lajeado e Jambeiro

Primeiro Encontro Teatral do CEU Lajeado

participantes: Alice e Carlos

Nesse encontro foi muito importante a participação do Refúgio enquanto grupo para ajudar na organização e na maneira de pensar um encontro teatral, uma ação cultural na comunidade e a questão das parceirias necessárias entre AOs (artistas orientadores do projeto Teatro Vocacional), vocacionados, gestão do equipamento e coordenadores de cultura para o desenvolvimento do trabalho. Isso tudo é muito importante para o núcleo que está utilizando o espaço do CEU, mas não vou adentrar nesse assunto por enquanto...

Já falando da apresentação, vejo cada vez mais clara a proposta de encenação de "Feliz pra Sempre!", onde os atores estão 'livres' no espaço cênico para criar dentro do universo que estamos apontando.
Para que isso aconteça cada vez de uma forma mais rica possível seria interessante se os atores propusessem mais cenas nos ensaios, trouxessem mais pensamentos críticos sobre e principalmente vasculhassem o seu universo pessoal.
É um mergulho nas minhas questões, mergulho no que eu vivenciei. No começo dá um certo medo e um susto pela exposição, mas é importante lembrar que temos nossas figuras justamente para transformar todo esse material em ficção...
...

Encontro de segunda do vocacional CEU Jambeiro 20/07/09

Participantes: Alice e Carlos

Mais uma vez abrimos algumas cenas de "Feliz pra sempre!".

A impressão que dá é que partimos dos contos para a criação e na verdade é ao contrário, os contos surgiram, são uma ferramenta, são as figuras que utilizamos para concretizar as nossas questões, por isso que não tem como não desconstruir a cinderela por exemplo...
É claro que isso não é uma regra, se quisermos partir de um conto agora podemos, porem é sempre bom pensarmos na desconstrução desse personagem para chegarmos nas nossas 'feridas', nos nossos anseios, no nosso material...
Não é somente contos de fadas descontruídos, isso qualquer um pode fazer.
É depoimento pessoal , é isso que vai dar outra qualidade de interpretação, é isso que nos permite combinar a cena minutos antes de apresentar, é isso que faz com que pareça tão genial um coisa boba como contos de fadas e isso nem todo mundo pode fazer, nem todo mundo tem coragem de fazer e coragem não é contrário do medo. A coragem é o "apesar de", apesar do medo eu vou, eu tenho medo, mas tenho também a coragem que me impulsiona e me faz ir adiante apesar do medo.
É isso... Que tenhamos coragem e força...

Não desejo que sejemos felizes para sempre, pois isso a gente sabe que não dá, mas desejo boas vindas a esse processo, que ele seja repleto de momentos felizes, muita troca, muito olho no olho, muita arte, muita ação, muita música, muita dança, muito Carlos, muito Abraão, muito Thiago, muito Alê, muito Vinicius, muita Talita, muita Maga, muita Alice, muitos colaboradores e muito para quem vier...
[super melodramatico esse final, mas ok...]

postado por Alice Nascimento na comunidade do nosso processo no orkut

Primeiras Imagens.




Breve Gênese

"É importante saber que não será fácil o caminho.
Mexeremos em questões que doem em cada um. Com as fraquezas, limitações, frustrações, medos, limites.
O processo de desconstrução do ator será vivenciado por todos independentemente do estar ou não em cena, em maior ou menor intensidade.
Sabemos onde estamos começando mas o caminho e o destino serão descobertos durante o processo.
Processo este que poderá/deverá ser discutido incansavelmente por todos os envolvidos e por quem vier a ajudar.
Tudo (tudo mesmo!) poderá acontecer.
O início é assim: por enquanto temos a mim (Carlos) como o encenador/diretor, o Thiago como o ator (que estou trabalhando no momento) e a Maga como produtora. Mais alguns parceiros que estamos reunindo.
Por ora é só isso que temos, além do tema 'Feridas'.
Mas volto a afirmar: tudo pode mudar!
Nos coloquemos em movimento e sejamos corajosos para aceitar e saber lidar com o desconhecido."

Postagem do dia 18 de maio de 2009 na comunidade do processo no orkut


...
E tudo começou numa conversa de msn, que depois passou para uma conversa de bar, e que depois passou a encontros aqui e alí em curtos espaços de tempo.
A Cia. Refúgio de Atuadores já existia, comigo, Alice e Brah mais a orientação do Luiz Claudio Cândido pelo Teatro Vocacional.
Eu conhecia o Thiago a algum tempo e ele me propôs que começássemos um processo juntos, mais alguns amigos... E que tivesse como mote o tema "feridas da cidade".
Iniciamos um processo fragmentado e que aos poucos foi se dividindo em dois núcleos, um na Casa de Cultura da Penha e outro no CEU Lajeado, em Guaianases.
Uma das primeiras pulsões do processo, surgido primeiramente do material humano de Maga Ares, a produtora do projeto, foi a questão afetiva da Cinderela e do seu mundo ilusório.
Simultaneamente nos dois núcleos fomos escavando essa e outras questões relacionadas a partir de um trabalho de depoimento pessoal com os artistas envolvidos, de acordo com a singularidade de cada um. Alguns estão conosco desde o início, outros entraram e saíram após um tempo, e outros chegaram e ainda estão se familiarizando.
Desse processo fragmentado saiu o primeiro resultado cênico/ experiência, que chamamos de Feliz pra Sempre! Onde estão em cena eu (que até então não entraria em cena) e Alice, nos revezando entre 4 personas/ personagens cada.
A dramaturgia é quase toda construída no momento da troca com o público e a sala de ensaio muitas vezes escapa do convencional no teatro e vira um espaço de conversa (reflexão) e troca de experiências (depoimentos) entre os artistas.
As trocas e apresentações, por enquanto, se dão nas edições do CEMOV (Cenas em Movimentos - Ceu Jambeiro), nos Cortejos do CEU Lajeado e em apresentações esporádicas em parceria com o Teatro Vocacional.
E o processo está sempre aberto.

Carlos Alberto Moreno

Sinopse: A partir do depoimento pessoal dos atores/ investigadores são utilizadas algumas figuras do imaginário infantil para a concretização cênica de questões afetivas e emocionais. Os encontros e desencontros da Cinderela, do Príncipe Desencantado, da Chapeuzinho Vermelho, do Lobo Mau, entre outros. Poesia encenada.

Ficha Técnica:
Encenação: Carlos Alberto Moreno
Elenco: Alice Nascimento e Carlos Alberto Moreno
Produção: Maga Ares
Orientação artística: Luiz Claudio Cândido